Acontece

Não posso falar de outros sem começar por mim mesmo. Embora não tenha sido este exatamente o caso, a imagem é muito semelhante. Meu primeiro equívoco aconteceu no primeiro dia da residência, em uma radiografia de rotina de abdome agudo que achei que era normal. Algum tempo depois o cirurgião volta e me questiona se aquela imagem no Rx de tórax era um pneumoperitônio ou um artefato. Ele já sabia que era pneumoperitônio, mas usou uma certa classe ou nobreza, como queiram chamar, para me corrigir. Pedi desculpas e disse que não iria mais acontecer, no que ele prontamente respondeu: não te ilude, vai acontecer sim, só não erra quem não tenta né? E saiu com um sorrisinho.

Uma das complicações mais frequentes que observamos no dia a dia são as cânulas traqueais baixas, eventualmente seletivas. Quem nunca exagerou na passagem da sonda que atire a primeira pedra. Sempre é bom ficarmos atentos para a exsitência de atelectasia do pulmão contralateral. Aqui observamos a cânula no brônquio principal direito (seta vermelha), obstruindo a emergência do brônquio contralateral. A seta azul indica o brônquio principal esquerdo. Em amarelo a posição onde deveríamos encontrar a extremidade inferior da sonda aproximadamente.

Outra situação comum é quando numa passagem de cateter venoso profundo inadvertidamente perfuramos a pleura, com formação de pneumotórax. O pneumotórax nos pacientes em decúbito é uma situação difícil de ser identificada, mas quando é de maior volume é mais fácil. Aqui um grande pneumotórax não hipertensivo à direita após o procedimento.

Sonda nasoenteral. Essa eu já vi aparecer em tudo o que é lugar, até na boca (sim na orofaringe, já vi). Não é o caso aqui. Esse é um caso extremamente importante, percebam como a sonda está posicionada à direita e não na linha média. O trajeto, se olharmos bem, acompanha o brônquio principal, seguindo ao brônquio intermediário e terminando no lobo inferior. É extremamente importante avisar imediatamente a equipe da UTI ou do setor de internação, para que não iniciem a alimentação. Posso contar uma história que quase me deixou muito mal em uma radiografia para localizar SNE. Acontece que na época existiam funcionários de digitação no hospital, e um paciente tinha radiografias de dois dias seguidos: o dia anterior com a sonda normoposicionada e a do dia seguinte, após a troca da anterior, e nova sondagem que mostrava uma SNE com extremidade posicionada no LID. O digitador trocou os exames e digitou o dia anterior com a sonda no brônquio e o dia seguinte em posição normal. Com isso alimentaram o paciente que teve uma série de complicações. Foi esclarecido o ocorrido e não tive maiores problemas com o incidente.

Como eu disse, em se tratando de SNE já vi de tudo. Essa foi para um lado, viu que não era por ali e foi pro outro lado. Importante: a extremidade é endobrônquica, no lobo inferior esquerdo. Avisar a enfermagem pra não alimentar o paciente. Aliás, dentro das situações esdrúxulas, essa é frequente, já vi umas três ou quatro assim, sempre iniciando á direita e terminando à esquerda.

E essa? Foi, chegou no esôfago inferior, não gostou, voltou, quando chegou lá em cima desistiu de desistir e foi lá pra baixo de novo, podendo inclusive ter dado um nó no trajeto. Apesar de doidinha, ela está no cárdia, posição alta, mas no tubo digestivo ao menos.

Paciente com fratura do rádio distal, fixada com placa e parafusos metálicos. O problema é que a placa era curta e não conseguiu abranger o traço de fratura, então soltou.

Paciente fez uma cirurgia na coluna com artrodese posterior, porém logo chocou. Um dos parafusos infelizmente perfurou a aorta e podemos ver aqui um grande hemotórax à esquerda secundário à rotura iatrogênica da aorta. O cirurgião vascular foi chamado e felizmente o problema foi resolvido.

Infelizmente não conhecemos o quadro clínico do paciente, mas houve necessidade de passagem de um cateter em duplo “J” na via excretora esquerda. Infelizmente foi feito um falso trajeto, perfurando a pelve renal e atingindo o espaço perinéfrico (fig a). Reparem como o cateter passa o limite superior do rim, faz uma volta e tem sua extremidade distal na cortical renal. Na figura b observamos uma coleção perinéfrica esquerda superiormente, que corresponde a um hematoma.

Infelizmente não conhecemos o quadro clínico do paciente, mas houve necessidade de passagem de um cateter em duplo “J” na via excretora esquerda. Infelizmente foi feito um falso trajeto, perfurando a pelve renal e atingindo o espaço perinéfrico (fig a). Reparem como o cateter passa o limite superior do rim, faz uma volta e tem sua extremidade distal na cortical renal. Na figura b observamos uma coleção perinéfrica esquerda superiormente, que corresponde a um hematoma.

Este paciente fez uma nefrectomia total esquerda e infelizmente foi deixado uma gaze no leito cirúrgico. Observamos uma imagem heterogênea, com vários focos gasosos de permeio, circundadas por uma cápsula, localizada no leito cirúrgico. Não é cólon porque o trajeto do cólon é periférico na cavidade abdominal e esta imagem está localizada adjacente ao músculo psoas, bem interna, retroperitoneal. Também percebemos alças cólicas entre a lesão e a parede. Em amarelo, destacamos um borramento adiposo junto ao bordo posterior da lesão, com aspecto inflamatório ou relacionado a tecido de granulação pós-operatório.